Heráldica: Arte de elaborar ou de interpretar as armas e os distintivos da nobreza sobretudo os brasões. O vocabulario Heráldica deriva do alemão Herald, anunciador, arauto. Servia o brasão para identificar aqueles que os ostentava, pois, como escreveu Granier de Cassagnac, os brasões constituem uma verdadeira linguagem, como sintaxe, gramática e ortografia, cabendo à Heráldica o poder de lê-la e escrevê-la.
A Heráldica surge ao tempo das Cruzadas mas só a partir do séc. XIII obedece a preceitos rígidos e gerias. Foi então que cada família passou a dispor de seu brasão, propriedade pessoal e intransferível.
A regra básica da Heráldica é não pôr nunca num brasão metal sobre metal, cor sobre cor e pele sobre pele. Os brasões que não obedecem a tal regra ou são anteriores á codificação da Heráldica ou falsos. Existem contudo na regra acima vocábulos cujo significado convém esclarecer. Assim, metais, cores e peles são, todos eles, cores, tecnicamente esmaltes: o jalne (ouro) e a prata são esmaltes chamados metais; o goles (vermelho), o blau (azul), a sinopla (verde), o sable (negro), o sanguinho (violeta ou púrpura) e o laranja são designados simplesmente como cores; ao grupo das peles, afinal, pertence o arminho, o contra-arminho, o veiros e o contraveiros. Todos os esmaltes possuem significado simbólico: o jalde simboliza a força, a riqueza; o blau, a justiça , a beleza; o sable, a prudência, a desilusão, e assim por diante.
Todo brasão possui elementos internos, que dizem respeito á família e aos feitos de quem o exibe, e externos, que traduzem seu grau nobiliárquico, cargo, honrarias, posição. Apenas os elementos internos são inscritos no brasão. Os externos adornavam a cimeira de elmos.
Varia enormemente a forma dos escudos: chama-se de escudo clássico, ou francês, o retangular, com bico regular á ponta; em lisonja, aquele que tem forma de losango, brasão eminentemente feminino; há ainda escudos de tipo oval eclesiástico, quadrado (tornes), espanhol, português ou flamengo, que é retangular, com a parte inferior arredondada, inglês (de forma clássica ligeiramente modificada por saliências angulares na parte superior utilizado nas armas imperiais do Brasil), polônio, alemão, suíço.
Quanto á posição, os escudos podem ser naturais (ponta na vertical), ao balon, isto é, à moda valona, incluindo à esquerda ou à direita (à destra ou à sinistra), acostados, ou seja, ligados um ao outro.
Dividem-se os escudos em seis partes: chefe ou parte superior, um terço da dimensão total, no sentido horizontal; ponta, parte inferior, nas mesmas condições: destra, flanco direito; sinistra, flanco esquerdo; campo, parte interna; abismo ou coração , parte central. Esquerda e direita correspondem, num escudo, à esquerda ou a direita de um cavaleiro que acaso o usasse, e para o qual se acha hipoteticamente voltado o observador.
Os tipos de escudos variam enormemente, existindo por exemplo escudos partidos (divididos ao meio: partidos em pala, isto é , verticalmente, do chefe à ponta; em cortado, quer dizer, horizontalmente de flanco a flanco), terçados (divididos em três partes), escartelados (divididos em quatro partes), agironados (divididos em oito girões por duas diagonais cruzadas, uma vertical e uma horizontal em cruz), em coração, isto é, escudos com outro escudo ao centro.
Chamam-se peças nobres do escudo as suas partes e divisões principais. Nobre de primeira ordem são o chefe (cabeça), a pala (que ocupa um terço do escudo, verticalmente na parte central), a faixa (ocupado, um terço do escudo, horizontalmente, na parte central), a banda ( um terço do escudo, diagonalmente, da destra á sinistra), a barra ou contrabanda (idem da sinistra à destra) e ainda a cruz, a aspa e a asna. De Segunda ordem são a bordadura a dobrecruz (que divide o campo em seis partes), a campanha, o quartel-livre, a perla, que tem a forma de Y.
Certas famílias castigadas pelos soberanos têm suas peças diminuídas (quebras); correspondem também certas diminuições a modificações de importância nos atributos heráldicos. As principais diminuições são: a cogula em lugar do chefe, a divisa no da faixa, a verga no da pala, a escora no da aspa.
São às vezes chamadas de peças nobres de terceira ordem certas peças comuns aos brasões mais antigos: a lisonja, a fusela, a mapla a rustra, todas em forma de losango; ainda a bilheta, o besante, a arruela, o gonzo , o hamaide.
Entre os atributos heráldicos, os mais usados é a cruz (cruz latina, grega, em tau, em força, de Santo André, de Lorena, etc.), que data não raro do tempo das Cruzadas (templária, de Malta, teutônica, de Cristo de Avis, de Calatrava). Outros atributos são anjos, querubins, serafins, vitórias, virgens, gigantes, corações, mãos, pés, leões, leopardos, elefantes, lobos, serpentes, golfinhos.
Quando um atributo corresponde ao nome autêntico de uma família, diz-se que o brasão que ostenta é de armas falantes, como lobos no brasão dos Lobatos, cunhas na dos Cunhas.
São elementos exteriores do escudo as figuras e os ornatos que o ladeiam ou contornam. São eles: as coroas (imperial, real, principesca, ducal, de marquês, de conde, de visconde, de visconde, de barão, de vidama, virol), os elmos (de imperadores e reis, de príncipes), os lambrequins (manto de púrpura e arminho, para os soberanos), o paquife, ou ornato em forma de folhagem, que descia do elmo.
Tais elementos referem-se à nobreza feudal; outros dizem respeito à militar (condestável, duas mãos com espadas ao lado do escudo; general, duas bandeiras cruzadas sob a ponta do escudo); à eclesiástica (papa, tríplice coroa; cardeal, cruz patriarca e o chapéu com 15 borlas em vermelho), a togada (chanceler, duas maças cruzadas sob a ponta do escudo; juiz, toga e capelo sob o escudo).
Heráldica Brasileira. Nasceu em verdade durante o Império Brasileiro. Não era hereditária: o uso do títulos extinguia-se com a morte do titular. No que tange à gradação, é típica da heráldica brasileira a instituição de um elemento novo: o acréscimo do título com grandeza. Barão com grandeza é o que usa, sobre o escudo, coroa de visconde; visconde com grandeza, coroa de conde; e assim por diante.
A heráldica brasileira lançou mão igualmente de novos atributos: plantas, como o fumo e o café, esse às vezes empunhado por um leão rompente(Visconde de Ariró), a cana (Barão de São Fidélis), a palmeira (Visconde de Abaeté); animais como onça (Barão do Catu), o gafanhoto (Barão de Amaragi); instrumentos como o compasso (Barão de Angra); índios (Barão de Vila Maria); constelações como o Cruzeiro do Sul (Barão de Cruzeiro); paisagens: com gado (Barão de Itaquaia), com um encouraçado (Barão da Passagem).
Entre as armas falantes brasileiras estão as do Barão de Itaguaí (pavão, já que seu nome de família era Pavão) e as do Barão da Passagem: um delfim, correspondente a Delfim; uma moeda de ouro ou carolus, correspondente a Carlos, e uma bolota de carvalho, correspondente a Carvalho, todos esses atributos entretanto como componentes do seu nome real, Delfim Carlos de Carvalho.